sexta-feira, 2 de julho de 2010

Descaso e ignorância

Pessoas ignorantes me comovem. É incrível como conseguem ser alheias a princípios básicos de socialização. Mas, além disso, o que mais mexe comigo é como algumas não são apenas mal-educadas, se superam e conseguem ser limitadas intelectualmente.

Não me refiro a pessoas que tiveram problemas de instrução, não puderam freqüentar uma escola. E sim aquelas que ostentam um diploma e querem ser chamadas de doutores. A comoção está neste ponto, tem-se a oportunidade social de serem agradáveis e espertas e se reduzem a uma classe desprezível.

Se chegassem a me chamar de ignorante, preferiria ser alheia a informação a um sabedor arrogante e grosseiro, esse sim um ignorante completo.

Mas tanta “revolta” tem uma razão! Começo da semana fui ao posto de saúde para conseguir um encaminhamento para um neurologista que atenda pelo SUS, isso para que eu dê entrada no Transporte fora domicilio (TFD). Com o TFD eu posso ir para o Sarah em setembro sem pagar as passagens de avião. É um beneficio do governo.

O atendimento começou às 06h30, cheguei lá às 06h40. Na triagem aferi a pressão, 08 por 06. Creio que estava baixa porque saí de casa sem comer. Como a técnica de enfermagem entregou uma senha, minha mãe lembrou que eu tenho preferência de atendimento. Ela disse que não ia precisar, a médica atendia rapidinho. Já saí contrariada.

Senha número nove. Quando cheguei em frente ao consultório, o quinto tinha acabado de entrar. Cinco minutos? Foi a primeira vez que vi um médico de posto com um atendimento um pouco mais demorado, se tivessem me contado não acreditaria.

De repente a médica sai e faz uma espécie de chamada. Eis que os primeiros sinais de sua robusta falta de delicadeza espetam os infelizes pagadores de impostos. Sim, é ela a razão de tanta chateação!!! “Fulano de tal tá ai?”, uma voz insegura solta um “Eu”. “Eu quem, eu quem?? Eu não é nome, diga o nome!”. Urgh, uma rainha do gelo!

Juro, ela não fez contato visual com ninguém e entrou para a sala. Não tive nem tempo de falar para ela me atender. Eu e minha mãe falamos com os outros pacientes que ela descumprindo uma lei federal. Apenas um deu importância, os outros ficaram com murmurinhos de concordância e só. Comportamento amebático!

Aquele que nos deu atenção quando foi entrar no consultório avisou a tal médica que tinha uma cadeirante. Ela foi direta com um “Entra logo!”. Pasmei!

A essa altura já era mais de 08h! E finalmente entrei na sala! Surpreendi-me quando proferiu um bom dia, se bem que daqueles que pretendem acabar com seu dia! “O que você precisa?”, comecei a explicar que queria um encaminhamento para o TFD quando de repente me corta, “TFD, o que é TFD?”. Alow, colega! Você é médica do SUS e não sabe disso? Tá, acho que estou sendo muito exigente. Uma folguinha para os ignorantes doutorados!

Com uma delicadeza murcha ela perguntou o que eu tinha. Ué, respondi que nada, só precisava de um encaminhamento. Quando abruptamente disparou “por que você está numa cadeira de rodas? Preciso saber o que você tem para colocar no relatório”. Seria tão simples se ela tivesse perguntado educadamente! Respondi tentando controlar uma justificável irritação. Engraçado minha mãe me pedindo calma enquanto ela reclamava da papelada e de ter que procurar o número do CID-10 (Código internacional de doenças) em um guia cheio de sigla e números.

Quando eu perguntei se ela conhecia a lei estadual 1.372/93 que garante prioridade de atendimento, ela respondeu que sim, mas que achava que estava com o pé machucado. Se assim fosse eu estaria em um pronto – socorro não em um posto de saúde. Pra completar ela soltou: “Mesmo que eu soubesse que você é cadeirante, não tem problema esperar você é jovem!”. Ela ficou sem ter o que falar quando a lembrei das escaras. Isso ai não escolhe idade.

Saindo da sala eu disse que iria reclamar meus direitos, para ela o que eu iria fazer era criar caso. Enquanto eu ainda falava ela tentou fechar a porta na minha cara.

Peço desculpas a você, leitor, por me ler tão chateada assim. Mas eu precisava desabafar esse caso e mostrar que a falta de respeito é constante. Esse fato reflete bem o pensamento que coloquei no post anterior. Realmente não adianta mudar a arquitetura de um lugar se as pessoas não são acessíveis. Acessibilidade é o respeito mútuo!

Enquanto isso tento fazer minha parte e vou continuar reclamando quando estacionarem em local reservado, em cima de rampas, quando ignorarem a fila e tantos outros. Parece coisa banal, mas não é. É preciso reclamar, brigar pelos nossos direitos civis e mais do que isso oficializar nossa reclamação! Dessa forma garanto para mim e para o meu próximo que as leis sejam obedecidas. Isso não é utopia, isso é respeito.

Fiquem com Deus!